Avanço de MEIs acende alerta para inadimplência e falências.
21/02/2016
O aumento expressivo de
microempreendedores individuais acende um alerta amarelo para a taxa de
inadimplência e para a expansão prevista de falências e recuperações
judiciais no País. Especialistas consultados pelo Broadcast, serviço de
notícias em tempo real da Agência Estado, dizem que pequenos negócios
estão sendo abertos no âmbito da crise econômica e, portanto, na
urgência de uma fonte de renda. Na falta de planejamento necessário, a
inadimplência ou a morte da companhia é quase certa, influenciando em
avanço desses indicadores. Por outro lado, os bancos estão vendo o
segmento uma oportunidade para reforçar suas carteiras de crédito,
minimizando o risco de potenciais devedores.
"Há um risco
elevado de transitarmos de uma taxa de inadimplência elevada - maior que
5% - para uma altíssima, já que o custo do capital de giro hoje é quase
inviável", ressaltou o diretor de Pesquisas Econômicas da GO
Associados, Fábio Silveira. Conforme dados do Banco Central (BC), a taxa
de inadimplência no mercado de crédito com recursos livres no País
ficou em 5,3% em dezembro de 2015 ante 4,3% em 2014. Para pessoa física,
a taxa foi de 6% e para as empresas, em 4,5%. Segundo o especialista, a
provável bancarrota futura dos microempreendedores individuais (MEIs)
só engrossará a tendência de alta nos próximos períodos para o
indicador. "Enquanto tivermos uma taxa de juros elevada, esse sinal
amarelo que se acendeu vai continuar", destacou.
De acordo
com a Serasa Experian, no ano passado, número de novas empresas no
Brasil cresceu 5,3%, impulsionado pelo avanço dos MEIs, que
representaram 75,9% ou 1.491.485 do total de 1.963.952 das empresas
criadas no País em 2015. Dados do Sebrae indicam que os MEIs
ultrapassaram o número de micro e pequenas empresas (MPEs) e que desde
sua criação, em 2008, até janeiro último essa categoria tem soma
5.720.194 microempreendedores individuais, quase 20% maior que o de MPEs
abertas no período (4.777.069).
Segundo Luiz Rabi,
economista da Serasa, a onda mais recente de microempreendedores é "uma
questão de sobrevivência e não de oportunidade de negócio", em movimento
que responde à piora da economia, embora também seja facilitada pelos
incentivos fiscais e menor burocracia.
O que corrobora o
pessimismo dos especialistas é a taxa de mortalidade desse porte de
empresa. Conforme o Sebrae (dado mais recente é de 2010), entre as
companhias com até dois anos de atividade e que nasceram em 2007, a taxa
de mortalidade é de 24,4%. "Podemos atingir em breve um porcentual de
mais de 30%.
Se é abertura por necessidade e ele considera
esse novo negócio um complemento de renda, a empresa não aguentará nem
dois anos", disse o consultor do Sebrae SP, João Carlos Natal. "Além
disso, hoje há um choque de demanda", completou. O especialista disse
que o Sebrae tem recebido retorno de que o receita das pequenas, médias e
micro empresas tem caído em até 50%.
Ele também alerta que
o aumento da inadimplência não seria só oriundo da pessoa jurídica.
Segundo Natal, o mais natural é que antes de abrir uma conta corrente
jurídica, o microempreendedor individual opte pelo financiamento mais
caro disponível para pessoa física, como o cheque especial e cartão de
crédito. "Até porque as instituições financeiras fazem mais exigências
para uma companhia recém-criada", disse.
Microcrédito e visão de bancos
Os
bancos, por sua vez, estão encontrando no microcrédito - que engloba
financiamentos não só para MEIs, mas também para micro e pequenas
empresas - um potencial para engordar sua carteira de crédito. Conforme
dados do Banco Central, o saldo da carteira de microcrédito destinado a
microempreendedores no País em dezembro último era de R$ 5,396 bilhões,
praticamente estável ante 2014 (R$ 5,301 bilhões), mas 9,7% maior na
comparação com 2013 (R$ 4,829 bilhões), quando o nível de desemprego
começou a subir no País.
O superintendente de microcrédito
do Santander, Jerônimo Ramos, informou que atualmente a carteira de
microcrédito do banco está em R$ 290 milhões, com 143 mil empresas
ativas e crescendo cerca de 10% ao ano no últimos três anos, mesma taxa
esperada para 2016. "O banco investiu R$ 3,2 bilhões nos últimos 10 anos
no segmento", ressaltou.
Questionado sobre o risco de aumento de
inadimplência, Ramos disse que hoje a taxa está estável e deve ficar
assim por um bom tempo. "Na hora da concessão fazemos um levantamento
socioeconômico e temos também o grupo solidário, um aval em grupo
formado pela união de 3 ou 4 microempreendedores que assumem,
solidariamente, a responsabilidade pelo pagamento das parcelas do
empréstimo", destacou.
Para o diretor da Ativa Wealth
Management, Arnaldo Curvello, o Brasil ainda possui pouca experiência em
microcrédito, o que faz que a representatividade desse segmento seja
ainda pequena perante linhas para outros portes de empresas. "Pode ser
um risco bem pequeno de inadimplência para as instituições financeiras.
Além disso, a base do microcrédito também é grande e os MEIs, por
exemplo, mesmo que haja o risco de inadimplência, são diluídos. Mas se
houver um volume relevante, pode ser uma ameaça", falou.
Ele
defende, ao contrário dos outros especialistas, que a taxa de
inadimplência do País não está alta se comparado ao spread bancário
sobre a taxa básica. "No microcrédito, os juros ainda compensam a
inadimplência", afirmou.
Para outro economista-chefe de uma
corretora, a preocupação dos bancos hoje é muito mais com as empresas
de grande e médio portes do que as micro e pequenas companhias. "Risco
existe, mas não é relevante para a carteira total no momento", declarou.
http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/economia/20160221/avanco-meis-acende-alerta-para-inadimplencia-falencias/345117